É cada vez mais comum encontrar, nas redes sociais, fórmulas rápidas e soluções milagrosas que prometem saúde, produtividade e bem-estar. Tais ideias viralizam, ganham fama por meio de influenciadores e prometem transformações imediatas. Mas, por trás de termos chamativos como “detox”, “biohacking” ou “sono polifásico”, há quase sempre o mesmo problema: o radicalismo.
Adotar técnicas radicais para compensar excessos pontuais ou para ter resultados rápidos pode não ser tão efetivo e o resultado certamente será desproporcional ao esforço. É claro que restringir a alimentação a saladas, por exemplo, pode levar à perda de peso. O emagrecimento costuma ser uma questão matemática: Acontece quando consumimos menos calorias do que gastamos ao longo do dia (mulheres, em média, gastam entre 1200 e 1600 calorias, caso não façam exercícios; homens, de 1600 a 2000 calorias). Ou seja, se comermos apenas três pães franceses com manteiga ao longo do dia (um em cada refeição principal), pode funcionar — cada um deles tem, em média, 200 calorias.
Essas estratégias, no entanto, não são sustentáveis, nem saudáveis. Ao contrário, podem levar ao efeito rebote e não ajudam a construir uma boa relação com o próprio corpo. Nesse sentido, como defende Sophie Deram, nutricionista e doutora em endocrinologia pela Universidade de São Paulo (USP), o melhor caminho é retomar a rotina de forma equilibrada e buscar hábitos saudáveis que façam sentido no longo prazo.
O exemplo citado está ligado ao universo da alimentação, mas a lógica pode se aplicar a outras questões. É o caso do sono polifásico, que propõe dividir o sono em pequenos cochilos ao longo do dia para aumentar a produtividade. A ideia contradiz a ciência, que defende a necessidade de ter sono reparador, e ignora o fato de que o corpo humano é orientado a dormir a noite e ficar acordado durante o dia.
Além das dietas detox e do sono polifásico, outros modismos são propagados na internet. Conheça algum deles abaixo e entenda por que não segui-los.
Para além das dietas e do sono polifásico: O que evitar?
• Detox de cortisol
Algumas das ideias espalhadas pelas redes sociais contrariam o que é considerado natural pelo corpo humano. É o caso do sono polifásico e do detox de cortisol, que propõe “eliminar” ou “reduzir” a presença desse hormônio no organismo. A proposta surge da associação entre a presença do cortisol no organismo e o estresse. De fato, a concentração do hormônio aumenta em situações de tensão. Portanto, a eliminação de um prevê a ausência do outro.
Entretanto, essa não é a única função em que o cortisol: ele é essencial também para a regulação do metabolismo, o equilíbrio da pressão arterial e o sistema imunológico. Eliminá-lo, então, não seria saudável – e muito menos simples. O ideal seria reduzir o estresse a zero – mas, convenhamos, isso também é improvável.
• Exercícios intensos para “compensar” excessos
Outra armadilha comum é tentar “queimar” o que foi consumido com treinos exaustivos. Essa prática aparece com frequência após feriados, festas ou fins de semana. No entanto, se o corpo passou por poucos dias de descanso ou alimentação desregulada, ele pode estar mais vulnerável. Exercícios intensos nesse estado aumentam o risco de lesões e fadiga. Em vez disso, retome os treinos de forma gradual, com atividades de menor impacto, como caminhadas, alongamentos ou yoga.
• Abuso de chás e suplementos diuréticos
Chás diuréticos são vistos como aliados para “desinchar”, mas o uso excessivo pode levar à desidratação e à perda de eletrólitos importantes. Prefira beber água ao longo do dia e consumir alimentos ricos em potássio, como banana e abacate, que ajudam no equilíbrio hídrico do organismo de maneira natural.
Ter hábitos melhores é sempre recomendável; radicalizar, não. Dietas muito restritivas, treinos exaustivos, fórmulas de produtividade forçada e soluções “virais” muitas vezes desconsideram aquilo que mais importa: escutar o próprio corpo. Troque o imediatismo pelo cuidado contínuo. O que funciona de verdade é manter uma rotina possível, prazerosa e equilibrada. O resto, pode deixar para o algoritmo.